Maturidade sonora e lírica: um #ForaBolsonaro em forma de death/thrash metal.
Por Wilfred Gadêlha
Maturidade é algo que não dá em árvore. É uma “commodity” que se conquista ao longo de um processo muitas vezes turbulento, cheio de idas e vindas, com subidas e descidas. Não é só tempo que a determina - vejam aí os exemplos como o do presidente Jair Bolsonaro, que, do alto dos seus 65 anos, é aquilo vemos todo dia. Mas deixemos o energúmeno mais pra frente.
O que quero dizer é que a banda pernambucana Pandemmy enfrentou ao longo dos 11 anos de existência muitos percalços. O principal deles foi a inconstância nos postos de vocalista e baterista. Essas crises, sempre traumáticas, levaram a banda ao patamar da maturidade a que me referi. E Subversive Need, o terceiro full deles, é o seu disco mais maduro.
O Pandemmy soube solucionar com inteligência esses problemas, não deixando de produzir e manter o nome na cena metal. Se a saída de Ray Torres (ex-Vocífera) trouxe algum ruído, foi superado - ao que parece pela banda e pela sua ex-frontwoman. E Guilherme “Trovador” Silva caiu como uma luva para assumir o microfone, como já havia sido uma escolha importante quando substituiu há alguns anos o guitarrista fundador Diego Lacerda. Guilherme, que acumula as duas funções e ainda atua na pré-produção dos trabalhos, se sai muito bem na voz, embora precise de mais tempo de palco e estúdio para chegar a um resultado ainda mais satisfatório do que obteve em Subversive Need.
Na parte sonora, o Pandemmy sempre “ficou no muro” entre death e thrash metal, caindo mais pro primeiro nos últimos dois discos. Mas é importante ressaltar que a proposta inicial, desde a primeira demo Self-Destruction (2010), foi mantida. Os blasting beats do novo baterista Vitor “Vespa” Alves …, o tom gutural de Guilherme e os riffs mais carregados dão a tônica pro death, mas o thrash está em todo canto. Na cadência de canções como I Choose My Blood ou a faixa de abertura, Deforestation, que lembra um clássico do EP Dialectic (2012), regravada em Reflections & Rebellions (2013), Common Is Different Than Normal, o álbum de estreia. Nos backing vocals em coro tão tradicionais no thrash. E na parte lírica.
E aí a gente vai voltar para questão da maturidade. O thrash metal sempre foi um estilo que questionou o status quo, com letras ácidas e politizadas - Nuclear Assault, Anthrax, Kreator… a lista é imensa. O Pandemmy fincou uma bandeira no panteão das bandas que se posicionam politicamente contra a onda reacionária por que passa o mundo, em especial, o Brasil.
E nisso o mérito é quase todo do guitarrista e único integrante original Pedro Valença. A começar pelo título, Subversive Need é um libelo pela liberdade de expressão, uma ode ao pensamento progressista. É como se o disco tivesse um discurso subliminar poderoso, que vai além das letras mais diretas como Xenophobia e Deforestation. E esse discurso subliminar é endereçado ao “ser humano” mais imaturo da atualidade. Se você acha que política e metal não se misturam, não ouça Subversive Need. Porque o que a gente ouve, por baixo da camada de guitarras distorcidas, é uma frase: “Fora Bolsonaro”.
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