Graças à manipulação do estilo ‘vocês-verão-o-que-queremos-que-vejam’, o brasileiro tem uma percepção distorcida da realidade. Em termos de Metal, muitas vezes, pensa-se que os grandes nomes só podem vir do eixo SP-RJ-MG, quando muitas bandas de alto nível já surgiram fora dele. Exemplos não faltam disso.
E o Nordeste brasileiro é muito fértil, sempre trazendo nomes muito bons e relevantes. Pernambuco mesmo já deu muitos nomes de peso ao cenário, como MALKUTH, HATE EMBRACE, CARAVELLUS, ELIZABETHAN WALPURGA, e outros. E um dos que mostra muito potencial é o agora quarteto PANDEMMY, de Recife, que chega com “Subversive Need”, seu terceiro álbum.
O estilo da banda não mudou em essência: continua sendo o mesmo Death Metal com nuances pegajosas de Thrash Metal (tanto da escola norte-americana como da alemã). A diferença se encontra em como a evolução foi moldando o trabalho do grupo, a ponto de se notar alguns toques regionais mais evidenciados em sua música (como o que se ouve no final de “Xenophobia”), uma forte carga de emoções (que flui especialmente em “I Choose My Blood”, que ganha assim alguns contornos à lá Death Metal de Gotemburgo) e mesmo maior cuidado em termos de arranjos.
Por isso, é preciso estar preparado para o que o quarteto aprontou, mesmo porque ocorreram mudanças significativas na formação: o guitarrista Guilherme assumiu também os vocais, e o baterista Vitor foi efetivado no grupo ano passado. Talvez estas alterações tenham conferido ao grupo uma visão diferenciada do que já estava fazendo antes.
Ou seja: o estilo do grupo apenas ficou mais afiado, mais fácil de ser assimilado, mas continua bruto e tecnicamente burilado.
Pedro (guitarrista e fundador do grupo) e Guilherme assumiram a produção sonora, deixando Cristiano Costa cuidar da engenharia de som, da mixagem e da masterização. Tudo para que a qualidade sonora também evoluísse.
E assim o é, pois o quarteto conseguiu fundir a ideia de algum bruto e agressivo, mas bem definido, e que permite que o ouvinte entenda o que está sendo tocado sem esforços. Além disso, a timbragem dos instrumentos melhorou bastante.
O trabalho da Deafbird Design Lab na capa é bem evidente: onde pessoas de pouco conhecimento enxergarão algo blasfemo, os mais despertos perceberão a mensagem. E sem falar que ficou de alto nível, sombria e com bons contrastes de cores. Para quem leu algo de H. P. Lovecraft, a interpretação não será um problema.
O grupo faz em “Subversive Need” uma nota de protesto, como o próprio título sugere. Basicamente, são mensagens em oposição ao desmatamento sem limites ou preocupações com o meio ambiente (“Deforestation”), ao ódio que permeia a atualidade, muitas vezes alimentado pelos que deveriam falar em amo (“Neohate”); às guerras de opinião nas mídias sociais (“Webchaos”), contra o racismo (“Xenophobia”), e mesmo um grito laico contra a cobiça e o ódio permeiam o disco.
Antes que alguém mencione algo de ideologias ou militâncias, é preciso entender que ser sensível, compreender as agruras e sofrimentos das pessoas e da natureza não é uma questão de esquerda ou direita, mas se de ser um ser humano íntegro.
“Subversive Need” pode ser dito como um disco maduro e inteligente. Por enquanto, é o ápice da carreira do quarteto (embora fique evidente que o grupo tem muito mais potencial para utilizar). E as melhores para uma primeira audição são:
“Deforestation”: Curta e grossa, com andamento não muito veloz e alguns arranjos limpos de primeira, esta abre o disco em alto nível. Percebe-se a influência do Death Metal norte-americano em vários momentos, algumas melodias encorpadas nas guitarras; e baixo e bateria dão uma aula de peso, coesão e diversidade rítmica.
“Neohate”: Nessa, a estrutura harmônica tende mais para o equilíbrio entre Thrash Metal e Death Metal. Existem passagens muito empolgantes das guitarras, mas é incrível como os solos estão muito bons, em um jeitão à lá SLAYER clássico.
“Webchaos”: uma introdução sinistra de teclados é o ponto de partida para um assalto de brutalidade extrema. Existem até alguns momentos rítmicos mais modernos à lá “Chaos A. D.” em alguns momentos, e a canção inteira é excelente.
“Xenophobia”: apesar da energia crua e elementos rítmicos de Death Metal da bateria, é uma canção com mais enfoque na energia envolvente do Thrash Metal. Mas o ‘insert’ de música tradicional do Nordeste no final é algo mágico.
“I Choose My Blood”: E eis que surge uma canção com forte influência do Death Metal melódico de bandas como AT THE GATES, ou seja, é bruto e carregado, mas com alguns toques melodiosos subjetivos que ficaram ótimos. Os vocais urrados estão muito bem, mas tendem a evoluir no futuro.
“Charlottesville”: Outra em que algo moderno e mais solto em termos de Metal extremo aparece de forma sutil nas linhas melódicas. E que guitarras excelentes, verdade seja dita!
Pode-se até aferir que “Subversive Need” seja um disco de transição. Como já dito, existem novas influências aparecendo, e não seria surpresa alguma a banda as abraçar e ir adiante, doa a quem doer.
O PANDEMMY evoluiu bastante pelo que se ouve em “Subversive Need”, e chega firme como um dos discos mais surpreendentes do ano. Agora, todos deveriam largar as notícias de fofocas e ouvir o que o quarteto tem para mostrar. E não se decepcionarão!
Link: https://metalmindreflections.blogspot.com/2020/08/pandemmy-subversive-need.html
Ouça Subversive Need nos links abaixo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário